Pintura: BRASILIDADE

Brasilidade. Joyce Luana de Farias, 2014-2017. Acrílica sobre a tela, 40x60.
Há três anos comecei a pintar esta tela, por algum motivo deixei-a de lado e até esqueci de sua existência. Quando ainda estava criando seu esboço, achei que ela seria apenas uma fotografia metafórica das coisas que tinham ocorrido até aquele ano, que em algum momento ela se tornaria obsoleta com o tempo, afinal de contas estamos em constante “progresso” e evolução.

Tamanha foi minha surpresa quando esbarrei com ela novamente e resolvi termina-la, pois nada tinha mudado, na verdade as coisas estão muito pior. A diferença é algumas questões pararam de ser discutidas, não por não existirem, mas por terem sido ofuscados com outras consideradas mais graves.

Vocês, observadores, podem interpretá-la como lhe prouver, as obras de arte nos dão essa liberdade, a forma como ela chega aos nossos olhos é muito subjetiva. Porém eu, como criadora, vou adiantar-lhes as pretensões que me tomavam quando me ocorreu a ideia de pintá-la. 

Suponho que tenham observado que a bandeira do Brasil está representada como protagonista da obra, mas optei por não pintá-la da forma convencional. A cor verde de nossa bandeira representa as matas e florestas de nosso lindo país; conservei essa cor e significados, porém com uma grande pitada de realidade: o desmatamento. E esse é um dos assuntos que de alguma forma foi ofuscado, ainda fala-se nele, entretanto outras pautas se tornaram mais importantes.

De acordo com pesquisas recentes, o Brasil ocupa o segundo lugar no pódio como o país que possui a maior cobertura vegetal do mundo, em primeiro está a Rússia. Porém, o desmatamento tem reduzindo de forma significativa a cobertura vegetal no território brasileiro. Aproximadamente 20 mil quilômetros quadrados de vegetação é desmatada por ano em consequência de derrubadas e incêndios. 

Esse procedimento resulta em  vários fatores negativos ao meio ambiente, em destaque encontramos: perda da biodiversidade, empobrecimento do solo, emissão de gás carbônico na atmosfera, alterações climáticas, erosões, entre outros.

Representei o solo empobrecido na parte superior da bandeira, o local que outrora fora verde e vívido foi substituído por terra rachada e enfraquecida.

O losango amarelo em nossa bandeira representa o ouro e as riquezas. Conservei o significado, mas sugeri uma reflexão: qual riqueza nos representa? É a riqueza natural ou a material? Já que somos ricos, todos os brasileiros usufruem dessa riqueza?

Se forem atentos aos detalhes, as moedas de ouro que formam o losango perdem o cifrão ao se misturarem com a parte verde que ainda resta, não por descuido ou preguiça, mas para representar a ideologia adotada em nosso país de que “é mais fácil fazer dinheiro derrubando árvores do que conservando e plantando”.

No centro de nossa bandeira temos uma esfera azul que representa o céu da noite do Rio de Janeiro no 15 de novembro de 1889, com 27 estrelas representando os Estados brasileiros e o Distrito Federal. Esse significado não conservei, substitui por uma esfera que representa um problema que ainda está em pauta: a crise hídrica. Esse problema ocorre justamente devido ao desmatamento e por causa do desperdício do líquido precioso.

Ao redor da bandeira alguns cifrões estão espalhados, eles representam a corrupção no Brasil que, de tão comum, já virou um símbolo nacional.

O meu objetivo é fazer os brasileiros refletirem e se posicionarem para defender e cuidar de nossa pátria abandonada que utopicamente traz “ordem e progresso” como lema.

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